Algumas Considerações

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sobre Café e Cigarros

Sobre Café e Cigarros

Dados do Filme:
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Gênero: Comédia/Drama
Origem: Estados Unidos
Duração: 95 minutos
Tipo: Longa

Site do filme:
http://www.coffeeandcigarettesmovie.com/

Resenha :

Sobre Café e Cigarros (Coffee and Cigarettes) é uma coletânea de 11 curta-metragens do diretor Jim Jarmusch (autor de obras como “Estranhos no Paraiso”, “Down by Law”, “Mystery Train” e “Dead Man”) onde mostra várias personas célebres discutindo diversos temas, quase sempre bebendo café e fumando cigarros.

O longa não tem uma trama, não existe pretensão alguma disto, e nem qualquer relação entre um curta e outro, as coisas simplismente acontecem, os personagens do filme são os próprios atores, representando eles mesmos em momentos de pretensa realidade.

Com quatro diretores de fografia, o filme trabalha totalmente em imagens preto e branco, uma possivel alusão ao branco do cigarro e ao preto do café, e com isso, acaba se tornando um charmoso exemplar do cinema independente americano, perfeito para aqueles que adoram jogar papo fora tomando um cafezinho.

Entre as celebridades do filme encontramos Roberto Benigni, Steve Buscemi, Iggy Pop, Tom Waits, Cate Blanchet, Jack White, Meg White e Bill Murray.

As filmagens do filme iniciaram em 1986, o primeiro curta, Strange to Meet You, do filme foi apresentado no Saturday Night Live. Com esse curta filmado, Jarmusch guardou a idéia durante 17 anos, filmando sempre quando tinha uma oportunidade. Assim, em 1989, Steve Buscemi encarou os gêmeos Cinqué e Joie Lee (filhos do diretor Spike Lee) num boteco para contar uma incrível história de Elvis Presley (episódio Twins”).

Três anos depois foi a vez de Iggy Pop e Tom Waits se encontrarem em um boteco (Somewhere in California), ao lado de uma jukebox, e ficarem "trocando idéias" impagáveis. "Cara, conheci um baterista sensacional. Assim que o vi tocando, pensei: preciso apresenta-lo para o Tom", diz Iggy. "Você está querendo dizer que o som da bateria dos meus discos é uma porcaria? É isso?", responde Tom Waits, sério e impagável.

O sarcasmo flutua no ar junto com a fumaça, que, alias, nem devia marcar presença nesse quadro, já que tanto Tom quanto Iggy haviam abandonado os cigarros por ordem médica. "Mas fumar um cigarro é um exemplo de força", provoca Tom Waits. "Só quem parou de fumar pode acender um cigarro e dizer: estou fumando um cigarro, mas eu já parei. E só para provar que sou forte vou fumar apenas um", conclui o pensamento Tom Waits. Incrédulo, Iggy Pop aceita um cigarro e os dois astros parecem ter orgasmos quando a nicotina invade o corpo. Hilário.

O final do esquete é muito engraçado.

É de 1992, também, o quarto episódio do filme, “Those Things'll Kill Ya”, em que Joe Rignano e Vinny Vella passam o tempo discutindo os malefícios do cigarro.

Logo segue o quinto episódio, Renée, com a lindíssima Renée French, onde ela simplismente aparece lendo uma revista, e é periodicamente incomodada por um garçom.

O sexto, “No Problem” com os atores Isaach de Bankolé e Alex Descas, onde ambos marcam um encontro, para simplismente se ver, fumar cigarros e beber café. Preocupado com o motivo do encontro, Isaach fica incessantemente perguntando ao outro, se havia algum problema, o porquê de tê-lo chamado. Alex simplismente diz que não tinha problema nenhum, que só queria vê-lo. A conversa se desenvolve ai.

O sétimo, “Jack Shows Meg His Tesla Coil”, com o duo White Stripes, onde eles (Jack & Meg White) mantem uma longa conversa sobre a bobina de Tesla.

O oitavo foi um dos meu preferidos, “Cousins”, com Cate Blanchet fazendo papel duplo e brincando com a fama, onde se apresenta como um encontro casual entre 2 primas. Uma aparenta estar bem sucedida, e a outra, com diversos problemas.

A conversa se desenvolve entre as duas de uma maneira incrívelmente natural, cheia daquelas formalidades que realmente temos, porem, mostrando nitidamente tons de sarcasmos, e pitadas de inveja da prima problematica em relação ao sucesso da outra, onde ela sempre faz questão de comparar a vida da prima com a dela. Quando se percebe essa incessante comparação, se percebe tambem uma construção psicológica bem sutil da prima problemática, externando ao expectador, uma certa baixa auto-estima da personagem, que se vê em muito contraste em relação a prima. A reação da prima bem sucedida, em relação a essas analogias, é visivelmente desconfortável.

O nono, “Cousins ?” , com Alfred Molina e Steve Coogan, foi o que eu mais gostei.

Alfred convida Steve para tomar café, que está representando ele mesmo, como ator, porém mais famoso no universo do filme. Molina ao longo da conversa, depois de falar muito sobre os projetos de Steve, vai explicando o real motivo do encontro, e mostra a Steve, uma detalhada pesquisa feita comparando suas árvore-genealogicas, onde se constata ali que ambos são primos.

Alfred se mostra bastante empolgado em dar a noticia, fica fazendo diversos planos, porem Steve aparenta não estar muito animado. Molina quer se aproximar de Coogan de qualquer maneira, mas o inglês (que dispensa o café e toma chá) não corresponde a amizade.

O auge da conversa foi quando, Molina, em meio a toda sua empolgação, pede o número particular de Steve, que se mostra bem seco em recusar, inventando uma desculpa de manter um hábito peculiar nunca passar seu numero particular para ninguem.

Durante essa explicação, ele comete vários deslizes, um deles é ter dito “não passo meu número para ninguem, nem para pessoas importantes”, insinuando que seu primo não seja uma pessoa importante, outro quando ele pergunta se o primo em questão era “gay”.

Isso tudo deixa Molina com um semblante bastante triste, e ele percebe a arrogância do primo e o pouco caso que ele fez da situação toda.

A situação muda quando Molina no meio da conversa recebe uma ligação de Spike Jonze, e Steve, como grande admirador do diretor, muda totalmente de ideia sobre o primo e tenta “empurrar” seu número particular, abrir a sua agenda e dar uma total atenção especial a ele. Porém, ja era tarde demais para isto, e Molina já não mostra nenhum interesse.

O décimo,”Delirium”, com os rappers RZA e GZA, do Wu-Tan Clan, e o ator Bill Murray, absurdamente impagável, representando um paranoico viciado em cafeina.

O último “Champagne”, com William Rice e Taylor Mead, é sobre dois velhos amigos, em horario de intervalam que brindam a vida transformando café em champagne num trecho bastante poético. Jarmusch apenas exercita sua maneira de ver o mundo em pequenos relatos cheios de cinismo, tédio, banalidade e silêncios.

Veja uma cena do filme :
A cena com Iggy Pop e Tom Waits do curta Somewhere in California

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