Algumas Considerações

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sábado, 2 de maio de 2009

Oliver Sacks - O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Parte III)

A mulher desencarnada e o Sexto-Sentido
O livro conta a história de Christiana.
Moça robusta de 27 anos, mãe de 2 filhos, aparentemente com uma vida normal, e que derrepente, de forma súbita, começa a ter um ataque de dores abdmonais.
Ela foi levada ao hospital, e ficou internada pois precisava remover sua vesícula biliar.

No hospital, de uma noite para outra, e depois de um sonho horripilante, ela perdera sua capacidade de se reconhecer no espaço, não sentia seus braços e nem suas pernas.

Um dado interessante dessa subta mudança, é que ela apenas conseguia se manter em pé se olha-se para os proprios pés.
Ela também não conseguia segurar nada nas mãos ao menos que ficsasse seu olhar nas mãos.
Seu rosto também havia se tornado sem expressão, frouxo, e sua mandibula caia.
Até mesmo sua postura vocal desaparecera.

Aparentemente havia contraido uma doença em seus lobos parietais, que são responsáveis pela combinação das impressões relacionadas à forma, à textura e ao peso transformando essas informações em percepções gerais.

Ela teria perdido por completo a propriocepção, também conhecido como o sexto-sentido, que consiste em reconhecer a localização espacial do próprio corpo sem utilizar a visão, e sim a memória do espaço construido em sua mente.
Ela perdera o "ego-corporal" que Freud considera como a base do "eu".

Sua recuperação por completo seria algo ja descartado por Sacks.
A única coisa que ele poderia fazer é incitar ela a aprender a se adaptar aquele modo de vida, treinando-a e criando nela um certo automatismo visual para cada ação de seu corpo, além da intensificação do uso dos ouvidos.
Tudo isso para contonar sua incapacidade de usar a percepção da memória espacial, a qual ela via perdido.

Perder o sexto-sentido não é como perder uma perna ou ficar cego.
As pessoas não percebem isso, alias, nem ao menos tem a sapiciência da existência de um sexto-sentido.
A parte mais dificil é o que as outras pessoas veêm em Christina.
Não sendo claro para elas as manifestações desse sintoma da perda do sexto-sentido, Christina inustamente é tratada com ignorantes rosnadelas, e é taxada como embusteira ou tonta.
É comovente e triste ver uma pessoa nessa situação, e completamente indefesa.


Esta perna não é minha
O livro segue com um relato de um paciente internado no hospital, que entrou em estado de euforia no meio noite, caindo da cama e se recusando a deitar-se na cama novamente.

Esse paciente viera apenas para uns exames de rotina, mas foi internado, pois os neurologistas notaram que sua perna esquerda era "preguiçosa".
Seu estado aparentava normalidade, no hospital, quando estava indo dormir, e até esse momento se comportou de forma esperada.
O que não era esperado foi o que aconteceu quando ele acordou e se deparou com uma "perna" em sua cama.
Isso o deixara apavorado, e ele gritava, empurrava a perna para fora da cama e então caia.
No chão, esse paciente dizia ter visto a "perna de alguem" amputada na sua cama, e que não conseguia se livrar dela e atribuiu isso a uma brincadeira de mau gosto de um dos médicos, que teriam colocado uma perna de alguem na cama dele só para ver sua reação com isso.

O interessante é que a perna era dele mesmo.

Ele não reconhecia a perna, e ficou ainda mais apavorado quando descobriu que aquela perna "amputada" estava "grudada" nele. Ele a agarrou com as 2 mãos e tentou arrancá-la do seu corpo, não conseguindo, socou-a em um acesso de raiva.

Estava aterrorizado e chocado.
Este é um interessante caso de perda completa da consciência do seu membro hemiplégico
Esse paciente não conseguia conceber a idéida de que aquela perna era dele, mesmo não tendo uma demência mental, não sabia dizer a procedência daquela perna.

Parte II
Parte I

domingo, 26 de abril de 2009

Oliver Sacks - O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Parte II)


O marinheiro que parou no tempo.
A segunda parte do livro é outro caso interessantíssimo.
Oliver Sacks visitou um asilo e lá encontrou um velho marinheiro que sofria um tipo especial de amnésia recente.
Esse velho marinheiro não conseguia manter sua memória com fatos acontecidos recentemente, mas se lembrava perfeitamente do seu passado.
Mais do que isso, ele "vivia" o seu passado. Vou explicar melhor.
Conversando com esse senhor, Oliver percebeu que o mesmo mudava subtamente seu tempo verbal do pretérito para o presente.
Isso deixou Sacks perplexo e então ele o interrompeu para perguntar qual o ano em que eles estavam e qual era sua idade.
O velho marinheiro respondeu que o ano em que estavam era 1945 e que tinha 19 anos.

Intrigado com a resposta, Sacks lhe deu um espelho e mostrou a sua face, ato que ele se arrependera profundamente.
O velho marinheiro se deu conta da sua aparência e começou a entrar em pânico.
Felizmente, a sua amnésia recente fez-o esquecer do choque e então finalmente se acalmou quando Sacks mudou o foco da sua atenção para uma outra coisa.

Esse caso em particular me chamou a atenção pois esse senhor se lembra com detalhes do seu passado até uma determinada época, que era por volta de 1940.
Ele literalmente "parou" no tempo.
Conversar com ele era como conversar com uma pessoa em que ficou em coma desde os anos 40 e acordou agora.

Ele não se lembra de absolutamente nada depois dessa época, avanços científicos, mudanças políticas, absolutamente nada. Isso se deve ao fato de seu cérebro, apartir de uma determinada época, não conseguir mais assimilar mais nenhuma nova informação.
Como Sacks diz no livro, ele estava completamente isolado em um único momento da su existência.

O interessante é que contasta-se que seu estado era normal até 1965.
Porque então ele não lembra de nada a não ser todo o percurso da vida dele até a decada de 40 ?

No livro diz que ele foi marinheiro até 1965, mas depois saiu e começou a beber muito.
Em 1970 fora mandado para um hospital, e foi lá que se constatou que ele sofria de amnésia, não apenas esquecia fatos recentes, mas também não conseguia se recordar especificamente dos últimos anos.

Ele teria então regredido sua memória até uma determinada época (ou evento) que remetia nos anos 40 provavelmente, e teria fixado sua mente nessa época até então.

Felizmente esse horror só é percebido pelos outros, o portador dessa doença não se da conta da sua situação. Essa falta de noção da própria situação é exemplificada posteriormente no livro num caso bem interessante.


Fiquei cego sem saber.
Sacks conta que tratou um paciente com trombose repentina na circulação posterior do cérebro causando a morte das partes visuais do cérebro.
Dali por diante esse paciente se tornou cego, sem saber.
Ele parecia cego, mas não se queixava.
Seus olhos não reagiam a luz, estava tecnicamente cego, mas de forma alguma notara.
Ele perdeu não só a visão, mas como toda memória visual, e com isso, não sentiu falta de perda alguma.

O interessante desse caso é que ele prova que tudo o que acreditamos ser real, na verdade pode ser uma mera interpretação do nosso cérebro.
Como alguem pode ficar cego derrepente e não notar ?

Nossa visão seria apenas interpretações cerebrais, baseadas unicamente na memória ?

Parte III
Parte I

terça-feira, 21 de abril de 2009

Oliver Sacks - O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Parte I)

Interessado por questões que envolvem a mente humana e a percepção do mundo, me indicaram a ler um livro de Oliver Sacks (o tiozinho da foto) chamado "O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu".
Esse livro é um relato de casos de patologias neurológicas interessantíssimas.

O bom desse livro é que ele não se foca tanto em aspectos técnicos de cada caso patológico (ou seja, não precisa ter um conhecimento muito aprofundado de neurociência) e trata de questões que vão além da análise metódica dos paciêntes.
Esse livro recebeu diversos elogios por sua linguagem, considerada como um verdadeiro ensaio literário.

Ainda estou lendo o livro, não conclui ainda, mas a medida que vou lendo vou fazendo aqui alguns relatos sobre o mesmo (como se fosse um diário), talvez um relato meu por semana, até concluir o livro, recomendo imensamente que comprem (ou baixem) o livro, é fantástico.

Ps: Lembrando que esse blog NÃO vai postar mais nada para download, em vista da possibilidade dele ser sumariamente deletado como já aconteceu antes (leia mais).
Então, não me peçam.


Introdução.
O descaso com o hemisfério-direito do cérebro.
O livro começa contando um pouco da história da neuropsicologia, iniciada por Freud, contando como todo estudo da neuropsicologia poderia ser considerado, na verdade, como o estudo do "lado-esquerdo" do cérebro.
O "lado-direito", diz o livro, sempre fora considerado inferior e mais primitivo que o esquerdo.
Ele nunca foi foco de muitos estudos, e muitos dos disturbios ocorridos no cerebro (ou os mais visíveis) são do lado-esquerdo.

O hemisfério esquerdo (racional e computista) é mais complexo e especializado, um produto bem mais tardio nos cérebros dos primatas.
O livro porém nos revela o papel fundamental do "lado-direito" e sua ligação com a nossa capacidade de reconhecer a realidade.

É tão importante julgar e sentir quanto categorizar, classificar e racionalizar.
A prova disso segue-se no caso abaixo, até agora, um dos mais interessantes que já li na minha vida.


O homem que confundiu sua mulher com um chapéu.
Relato clínico.
No livro há um interessante caso de um homem, chamado no livro de Dr. P, que tem uma saúde mental aparentemente perfeita (não há demência), é um homem culto e simpático, mas que possui curiosas falhas de percepção da realidade.

Uma falha interessante dele mostrada no livro é de não conseguir distinguir seu próprio pé do um sapato, Sacks em sua consulta pediu para ele tirar os sapatos, e depois, coloca-los de volta.
Dr. P ficou perplexo e olhava os próprios pés e dizia algo como "não coloquei os meus sapatos ainda, olha eles aqui" ?
Quando Sacks apontava para onde estavam os sapatos, Dr. P respondia, "pensei que aqueles fossem meus pés".
Surreal, e não era a única, ele também mania de confundir objetos com pessoas.

Vale lembrar que ele não era cego, conseguia enxergar as coisas com perfeição, mas não sabia interpretar o que via como um todo
.
Seu cerebro não interpretava de forma correta os objetos
.
O título desse livro se refere a uma estranha situação ocorrida nessa consulta em que Dr. P pegou a cabeça da sua mulher, e tentou "vestir" ela como se fosse um chapeu.


O interessante era saber que ele conseguia reconhecer formas abstratas, como um poliedro, mas não formas humanas.
Uma das partes mais intrigantes foi quando Sacks deu a ele uma flor e pediu para ele dizer o que era aquele objeto.

Ele conseguia definir bem todas as características da flor, mas não conseguia concluir que aquilo ela era uma flor.
Tinha dificuldades para chegar a tal conclusão, como podemos ver na parte que copiarei do livro aqui...

(...)
”Uns quinze centímetros de comprimento”, comentou.
”Uma forma vermelha em espiral, comum anexo linear verde”.

”Sim”, falei, encorajador, ”e o que o senhor acha que é isso, doutor P?” ?
”Não é fácil dizer”. Ele parecia perplexo.
”Não tem a simetria simples dos poliedros regulares, embora talvez possua uma simetria própria,
superior...
Acho que poderia ser uma inflorescência ou flor”.

”Poderia?”, insisti.

”Poderia”, ele confirmou
”Cheire”, sugeri, e ele outra vez pareceu um tanto desconcertado, como se eu lhe pedisse para cheirar uma simetria superior.
Mas cortesmente fez como pedi e levou a flor ao nariz.
Então, de repente, ele ganhou vida.
”Lindo!”, exclamou.
”Uma rosa têmpora. Que aroma divino!”
E começou a cantarolar ”Die Rose, die Lillie...”.
(...)

A realidade para ele, era trasmitida pelo olfato, pela audição (só reconhecia pessoas ouvindo-as) e não pela visão.

Algo interessante é contado sobre suas pinturas (ele era músico, pintor e lecionava numa universidade).
Sua doença fora se desenvolvendo gradativamente com o tempo, e suas pinturas foram ao mesmo tempo passando do naturalismo ao abstrato completo, um fascinante relato da poderosa combinação de patologia e criação.

Parte II
Parte III