Algumas Considerações

domingo, 26 de abril de 2009

Oliver Sacks - O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Parte II)


O marinheiro que parou no tempo.
A segunda parte do livro é outro caso interessantíssimo.
Oliver Sacks visitou um asilo e lá encontrou um velho marinheiro que sofria um tipo especial de amnésia recente.
Esse velho marinheiro não conseguia manter sua memória com fatos acontecidos recentemente, mas se lembrava perfeitamente do seu passado.
Mais do que isso, ele "vivia" o seu passado. Vou explicar melhor.
Conversando com esse senhor, Oliver percebeu que o mesmo mudava subtamente seu tempo verbal do pretérito para o presente.
Isso deixou Sacks perplexo e então ele o interrompeu para perguntar qual o ano em que eles estavam e qual era sua idade.
O velho marinheiro respondeu que o ano em que estavam era 1945 e que tinha 19 anos.

Intrigado com a resposta, Sacks lhe deu um espelho e mostrou a sua face, ato que ele se arrependera profundamente.
O velho marinheiro se deu conta da sua aparência e começou a entrar em pânico.
Felizmente, a sua amnésia recente fez-o esquecer do choque e então finalmente se acalmou quando Sacks mudou o foco da sua atenção para uma outra coisa.

Esse caso em particular me chamou a atenção pois esse senhor se lembra com detalhes do seu passado até uma determinada época, que era por volta de 1940.
Ele literalmente "parou" no tempo.
Conversar com ele era como conversar com uma pessoa em que ficou em coma desde os anos 40 e acordou agora.

Ele não se lembra de absolutamente nada depois dessa época, avanços científicos, mudanças políticas, absolutamente nada. Isso se deve ao fato de seu cérebro, apartir de uma determinada época, não conseguir mais assimilar mais nenhuma nova informação.
Como Sacks diz no livro, ele estava completamente isolado em um único momento da su existência.

O interessante é que contasta-se que seu estado era normal até 1965.
Porque então ele não lembra de nada a não ser todo o percurso da vida dele até a decada de 40 ?

No livro diz que ele foi marinheiro até 1965, mas depois saiu e começou a beber muito.
Em 1970 fora mandado para um hospital, e foi lá que se constatou que ele sofria de amnésia, não apenas esquecia fatos recentes, mas também não conseguia se recordar especificamente dos últimos anos.

Ele teria então regredido sua memória até uma determinada época (ou evento) que remetia nos anos 40 provavelmente, e teria fixado sua mente nessa época até então.

Felizmente esse horror só é percebido pelos outros, o portador dessa doença não se da conta da sua situação. Essa falta de noção da própria situação é exemplificada posteriormente no livro num caso bem interessante.


Fiquei cego sem saber.
Sacks conta que tratou um paciente com trombose repentina na circulação posterior do cérebro causando a morte das partes visuais do cérebro.
Dali por diante esse paciente se tornou cego, sem saber.
Ele parecia cego, mas não se queixava.
Seus olhos não reagiam a luz, estava tecnicamente cego, mas de forma alguma notara.
Ele perdeu não só a visão, mas como toda memória visual, e com isso, não sentiu falta de perda alguma.

O interessante desse caso é que ele prova que tudo o que acreditamos ser real, na verdade pode ser uma mera interpretação do nosso cérebro.
Como alguem pode ficar cego derrepente e não notar ?

Nossa visão seria apenas interpretações cerebrais, baseadas unicamente na memória ?

Parte III
Parte I

terça-feira, 21 de abril de 2009

Oliver Sacks - O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Parte I)

Interessado por questões que envolvem a mente humana e a percepção do mundo, me indicaram a ler um livro de Oliver Sacks (o tiozinho da foto) chamado "O Homem que confundiu sua mulher com um chapéu".
Esse livro é um relato de casos de patologias neurológicas interessantíssimas.

O bom desse livro é que ele não se foca tanto em aspectos técnicos de cada caso patológico (ou seja, não precisa ter um conhecimento muito aprofundado de neurociência) e trata de questões que vão além da análise metódica dos paciêntes.
Esse livro recebeu diversos elogios por sua linguagem, considerada como um verdadeiro ensaio literário.

Ainda estou lendo o livro, não conclui ainda, mas a medida que vou lendo vou fazendo aqui alguns relatos sobre o mesmo (como se fosse um diário), talvez um relato meu por semana, até concluir o livro, recomendo imensamente que comprem (ou baixem) o livro, é fantástico.

Ps: Lembrando que esse blog NÃO vai postar mais nada para download, em vista da possibilidade dele ser sumariamente deletado como já aconteceu antes (leia mais).
Então, não me peçam.


Introdução.
O descaso com o hemisfério-direito do cérebro.
O livro começa contando um pouco da história da neuropsicologia, iniciada por Freud, contando como todo estudo da neuropsicologia poderia ser considerado, na verdade, como o estudo do "lado-esquerdo" do cérebro.
O "lado-direito", diz o livro, sempre fora considerado inferior e mais primitivo que o esquerdo.
Ele nunca foi foco de muitos estudos, e muitos dos disturbios ocorridos no cerebro (ou os mais visíveis) são do lado-esquerdo.

O hemisfério esquerdo (racional e computista) é mais complexo e especializado, um produto bem mais tardio nos cérebros dos primatas.
O livro porém nos revela o papel fundamental do "lado-direito" e sua ligação com a nossa capacidade de reconhecer a realidade.

É tão importante julgar e sentir quanto categorizar, classificar e racionalizar.
A prova disso segue-se no caso abaixo, até agora, um dos mais interessantes que já li na minha vida.


O homem que confundiu sua mulher com um chapéu.
Relato clínico.
No livro há um interessante caso de um homem, chamado no livro de Dr. P, que tem uma saúde mental aparentemente perfeita (não há demência), é um homem culto e simpático, mas que possui curiosas falhas de percepção da realidade.

Uma falha interessante dele mostrada no livro é de não conseguir distinguir seu próprio pé do um sapato, Sacks em sua consulta pediu para ele tirar os sapatos, e depois, coloca-los de volta.
Dr. P ficou perplexo e olhava os próprios pés e dizia algo como "não coloquei os meus sapatos ainda, olha eles aqui" ?
Quando Sacks apontava para onde estavam os sapatos, Dr. P respondia, "pensei que aqueles fossem meus pés".
Surreal, e não era a única, ele também mania de confundir objetos com pessoas.

Vale lembrar que ele não era cego, conseguia enxergar as coisas com perfeição, mas não sabia interpretar o que via como um todo
.
Seu cerebro não interpretava de forma correta os objetos
.
O título desse livro se refere a uma estranha situação ocorrida nessa consulta em que Dr. P pegou a cabeça da sua mulher, e tentou "vestir" ela como se fosse um chapeu.


O interessante era saber que ele conseguia reconhecer formas abstratas, como um poliedro, mas não formas humanas.
Uma das partes mais intrigantes foi quando Sacks deu a ele uma flor e pediu para ele dizer o que era aquele objeto.

Ele conseguia definir bem todas as características da flor, mas não conseguia concluir que aquilo ela era uma flor.
Tinha dificuldades para chegar a tal conclusão, como podemos ver na parte que copiarei do livro aqui...

(...)
”Uns quinze centímetros de comprimento”, comentou.
”Uma forma vermelha em espiral, comum anexo linear verde”.

”Sim”, falei, encorajador, ”e o que o senhor acha que é isso, doutor P?” ?
”Não é fácil dizer”. Ele parecia perplexo.
”Não tem a simetria simples dos poliedros regulares, embora talvez possua uma simetria própria,
superior...
Acho que poderia ser uma inflorescência ou flor”.

”Poderia?”, insisti.

”Poderia”, ele confirmou
”Cheire”, sugeri, e ele outra vez pareceu um tanto desconcertado, como se eu lhe pedisse para cheirar uma simetria superior.
Mas cortesmente fez como pedi e levou a flor ao nariz.
Então, de repente, ele ganhou vida.
”Lindo!”, exclamou.
”Uma rosa têmpora. Que aroma divino!”
E começou a cantarolar ”Die Rose, die Lillie...”.
(...)

A realidade para ele, era trasmitida pelo olfato, pela audição (só reconhecia pessoas ouvindo-as) e não pela visão.

Algo interessante é contado sobre suas pinturas (ele era músico, pintor e lecionava numa universidade).
Sua doença fora se desenvolvendo gradativamente com o tempo, e suas pinturas foram ao mesmo tempo passando do naturalismo ao abstrato completo, um fascinante relato da poderosa combinação de patologia e criação.

Parte II
Parte III

sábado, 18 de abril de 2009

20 filmes mais superestimados segundo internautas

Eu, por conta própria e sem nada melhor para fazer, resolvi fazer uma pesquisa em foruns espalhados pela internet sobre quais são os filmes mais SUPERESTIMADOS.
Fiz uma contagem de pontos, cada vez que um filme era citado, eu anotava, e cada vez que esse mesmo filme era citado novamente (por uma outra pessoa, obviamente), eu colocava um pontinho na frente.
Os filmes que somarem mais pontinhos, são os que no geral, o pessoal considera mais superestimado.
O resultado até que é interessante.
Para você que adora uma lista aqui vão os filmes.

1 - Adeus Lenin (Wolfgang Becker)
2 - Edukators (Antonin Svoboda e Hans Weintgartner)
3 - Irreversível (Gaspar Noé)
4 - Laranja Mecânica (Stanley Kubrick)
5 - Os Sonhadores (Bernado Bertolucci)
6 - Dançando no Escuro (Lars Von Trier)
7 - O Paciênte Inglês (Anthony Minghella)
8 - Tudo sobre Minha Mãe (Pedro Almovodar)
9 - Invasões Bárbaras (Denys Arcand)
10 - O Albergue Espanhol (Cédric Klapisch)
11 - O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (Jean-Pierre Jeunet)
12 - Lista de Schindler (Steven Spielberg)
13 - A Vida é Bela (Roberto Benigini)
14 - Dogville (Lars Von Trier)
15 - Menina de Ouro (Clint Eastwood)
16 - Forrest Gump (Robert Zemeckis)
17 - Kramer vs Kramer (Robert Benton)
18 - Cidadão Kane (Orson Welles)
19 - Efeito Borboleta (Eric Bress)
20 - Matrix (Irmãos Wachowski)


Quero deixar bem claro que isso não reflete a minha opnião, muitos desses filmes ai eu considero clássicos absolutos e indiscutíveis.
Vale lembrar também, que para um filme ser superestimado, ele precisa ser no MÍNIMO bom.


Não gostou ?
Nem eu...
O choro é livre...