Algumas Considerações

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mary Shelley: Frankenstein ou o moderno Prometeu


Considerações Iniciais

Esta resenha é baseadas em pesquisas e interpretação pessoal, os tópicos mostrados abaixo são INDEPENDENTES ENTRE SI, não tem necessariamente uma ligação e não necessariamente devem ser lidos em sequência.


Visão Geral

"Frankenstein, ou o moderno Prometeu", é muito provavelmente o romance de terror gótico mais bem conceituado já escrito, e um dos que mais influênciaram a literatura e a cultura popular ocidental.

Sob atuoria de Mary Shellley, na época uma jovem inglesa de 19 anos, o livro traz em si, uma forte influência do Romantismo.

A história é sobre Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que constroi um monstro em seu laboratório.

O romance é narrado através de cartas escritas pelo capitão R. Walton para sua irmã enquanto ele está ao comando de uma expedição náutica que busca achar uma passagem para o Polo Norte.

Durante a viagem o mar se agita e em uma balsa de gelo avistam o moribundo doutor Victor Frankenstein. Ao ser recolhido, Frankenstein passa a narrar sua história ao capitão Walton, que a reproduz nas cartas a irmã. Encontramos aqui uma estrutura pouco convencional na literatura, que é uma narração dentro de uma narração.

O Prometeu Moderno

O titulo "Prometeu moderno" traz em si, uma referência perfeita de Dr. Victor Frankenstein.

Primeiro vamos definir quem foi Prometeu.

Prometeu, na mitologia grega, foi um titã que criou a raça humana, esculpindo com barro e lagrimas.

Insolente, foi condenado por duas vezes pela mão de Zeus.

A primeira vez que Prometeu aborreceu Zeus foi em um banquete, onde foi sacrificado um boi, e ele tomou para si e para toda raça humana o melhor pedaço.

Como punição Zeus escondeu-lhe o fogo, que seria essencial para a construção de uma civilização mais moderna.

Desafiando essa punição, Prometeu subiu ao Olimpo, roubou o fogo da forja de Vulcano e deu-lhe ao homem.

Como punição, Zeus acorrentou Prometeu no monte Cáucaso onde uma águia vinha todos os dias comer seu figado, que sempre se regenerava.


Hefesto acorrentando Prometeuem tela de Dirck Van Barburen

Condenado ao sofrimento eterno pela ira de Zeus


A primeira relação entre a mitologia e a historia do livro talvez esteja na ideia de reunir pedaços mortos e fazer alguma coisa VIVA com eles.

No caso de Prometeu, foram lágrimas e barro, no caso de Dr. Frankestein foram pedaços de pessoas mortas

A segunda relação que vejo entre a mitologia e o livro é quase evidente. Envolve o sofrimento do criador, e a relação que isso tem com a criatura.

Prometeu ficou tão envolvido e empolgado com sua criação que se tornou insolente perante Zeus e os deuses do Olimpo, e por isso, foi condenado a sofrer eternamente amarrado em uma montanha, tendo seu proprio figado devorado.

Dr. Frankenstein também se condenou pela criatura que fizera, sua empolgação em ultrapassar os limites que determinam a vida e a morte, o fizeram igualmente insolente e cego, tal como foi Prometeu, o que refletiu numa condenação que ele jamais imaginara.


Aprenda, se não pelos meus preceitos, pelo menos por meu exemplo, o perigo que representa a assimilação indiscriminada da ciência, e quanto é mais feliz o homem para quem o mundo não vai além do seu ambiente cotidiano, do que aquele que aspira tornar-se maior do que sua natureza lhe permite.


Em vez de ser amarrado e ter o figado comido por uma águia, Victor Frankenstein teve que sentir na pele a morte de seus entes queridos por uma criatura que ele mesmo construíra, o sentimento de culpa e o desejo de vingança é o que o consumia.

Frankenstein seria portanto, o Prometeu moderno.


O sentido da epígrafe


"Acaso, ó Criador, pedi que do barro

Me moldassem homem ? Porventura pedi

Que das trevas me erguesses ?"



Essa é a epígrafe do livro de Shelley, escrita por John Milton em seu poema épico, Paraíso Perdido (ver figura abaixo).


Ele dá uma ideia bem clara de uma criatura questinonando seu criador, e a relação com o livro é bastante significativa.

Muito além de um simples conto do terror, o que realmente deve assombrar o leitor de Frankenstein é a solidão e o desespero da criatura renegada.

Pode ser tratado como um reflexo simbólico de qualquer ser humano vitmado pelo desprezo.


A inspiração na Ciência: Correntes Galvânicas

Podemos encontrar na ciência uma inspiração literária ?

Mary Shelley provou que sim. Além de toda elaboração e profundidade sentimental presente no livro, ele dá uma noção muito clara do interesse da jovem escritora pela ciência.

Na época em que viveu Mary Shelley, alguns cientistas acreditavam que de alguma maneira, a eletricidade poderia reanimar os mortos para a vida

Os experimentos com o fluxo ordenado de electrons em uma só direção, o que chamam de corrente galvânica (ou corrente contínua), causaram grande espanto aos cientistas na época, quando constataram que se os mesmos fossem utilizados em alguma pessoa morta, ela reagirá fisiológicamente como se ainda estivesse viva, terá contrações musculares e até demonstrará expressões faciais.

Foi nessa idéia que Dr. Frankenstein se apegou ao reunir pedaços mortos, juntálos e torna-los em algo vivo, pela eletricidade.


A mudança de opnião de Victor Frankenstein

O livro apresenta duas facetas de Dr. Victor Frankenstein, no começo vemos um jovem totalmente fascinado pela ciência e pelos mistérios da vida.

Em vez de ser um observador pacífico da natureza, ele era ávido por conhecimento e desprezava a osciedade da simples conteplação.


De que vale dissecar, analisar e dar nomes se não se chega à profundidade das causas? Essas, em seus graus secundários e terciaários, continuavam de todo desconhecidas


Essa opnião muda bruscamente ao decorrer do livro. A sede em buscar os mistérios da vida passa a ser vista como algo terrivelmente nocivo, isso porque essa sede condenou seu destino a uma culpa incosolável, o fruto de sua própria criação perambulou causando morte e destruição a tudo o que ele amava.

Até a utilidade da busca desse conhecimento é questionada por Dr. Frankenstein, como ele relela na seguinte citação:


Porque há de o homem vangloriar-se de sensibilidades mais amplas do que as que revelam o instinto dos animais ? Se nossos impulsos se restringissem à fome, à sede e ao desejo, poderiamos ser quase livres. Somos, porém, impelidos por todos os ventos que sopram, e basta uma palavra ao acaso, um perfume, uma cena, para provocar-nos as mais diversas e inesperadas evocações.


Não consigo deixar de relacionar essa citação com a visão simplista de Fernando Pessoa sob pseudônimo de Alberto Caeiro

Porque buscar o conhecimento ? Porque não nos limitamos a simplismente seguir nossos impusos naturais ? Parece que essa filosofia se tornou bastante presente na mente de Vitor neste momento pois refletindo o que fez, ele percebe que foi pela sede de conhecimento, que um monstro foi criado.


A inspiração na Alquimia

Podemos identificar focos no livro em que encontramos muitas influências da Alquimia, um campo de interesse bem particular de Mary Shelley. Podemos relacionar muito bem a ideia de Victor com a ideia chave da alquimia, que é transformar o bruto metal grosseiro e inútil (morto) em ouro relusente (vida).

Nada melhor que exemplificar isso com uma citação do próprio livro:


Sob a direção de meus novos mestres, atirei-me, nada mais nada menos, à descoberta da pedra filosofal e do elixir da longa vida


A descoberta da pedra filosofal, é objetivo de todo alquimista, esta pedra (que pode ter vários sentidos), segundo a alquimia, é capaz de transformar metais em puro ouro alquímico.

Nada mais conveniente pra mim, de relacionar essa pedra filosofal com os conhecimentos de Victor, pois é pelo conhecimento (a pedra filosofal) que ele transformará o metal bruto (morte) em ouro (vida).



O sofrimento da criatura

Condenado a viver com uma aparência horripilante, o monstro de Dr. Victor Frankenstein almaldiçoa o dia em que foi criado, e promete vingança a quem lhe despertou do até então eterno sono da morte.


O pior é que o ser que eu criara dava mostras de possuir vontade própria e capacidade de conduzi-la no sentido do mal e da destruição, e que primava por dirigir sua ferocidade contra o seu próprio criador, destruindo o que lhe fosse caro, como acabara de ocorrer


Vemos aqui, um distânciamento bem forte da idéia de vida como dádiva suprema.

Não é a vida em si que tem valor, mas sim, em como se vive essa vida.

Sua aparência intimidadora causava repulsa nas pessoas, e por mais que ele tentasse uma aproximação, as pessoas o rejeitavam

Marginalizado, ele praticamente foi empurrado para o mal (se sou um desgraçado, eles vão acompanhar-me em minha desgraça), acredito que vemos ele ao decorrer do livro, mais como uma vítma do que como um vilão. De certa forma simpatizamos com ele pois no fundo, nós o entendemos.

A tristeza se compreensível para nós, a vida para ele não é uma dádiva suprema, mas sim uma maldição insuportável.


Maldito criador! Por que vivi? Por que naquele instante não extingui a centelha de vida que você tão desumanamente me transmitira?


Ainda podemos relacionar esse desejo com a epígrafe do livro (releia).

Creio que nada justifique melhor o sentimento do monstro quanto essa citação:


Você parte de uma confusão de causa e efeito. Meus atos perniciosos e minha tendência para o mal resultam da falta de compreensão e afeto. Desde que eu encontre o amor de outro ser, desaparecerá a causa de meu crime e tornar-me-ei um ser inofensivo, cuja existência será ignorada por todos




Crítica Social

Esse livro definitivamente não é um simples conto de terror.

Podemos encontrar neste livro um leque enorme de referências do estudo social, dos efeitos da rejeição e da marginalidade, do preconceito.

Enfim, uma obra completamente genial

Uma das motivações do monstro em destruir, esta também calcada na frustração dele por suas descobertas em relação ao caráter humano.


Aprendi, Frankenstein, que os bens mais almejados pelos seus semelhantes eram a alta posição, a reputação e as riquezas


No processo de auto-aprendizagem, Frankenstein se depara com o frio universo humano, a verdadeira força negativa de toda a história contada no livro.


Conclusão

Se você não leu, LEIA.

http://rapidshare.com/files/181237017/Mary_Shelley_-_Frankenstein.doc.html


Mary Shelley

2 comentários:

Gibran Lahud disse...

Frankenstein-Side [:D]

eu já li o original, em inglês, RECOMENDADÍSSIMO-SIDE

Unknown disse...

tive que apresentar um resumo desse livro en uma aula de portugues na escola ! e gostei mto da historia desse livro ! gosto de coisas assim . com um estilo diferente !